“Ide por todo mundo, Proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15)

A Importância da Correção Fraterna

“Se teu irmão pecar, repreende-o; se se arrepender, perdoa-lhe.” (Lc 17,3)

O versículo de Lucas 17,3 apresenta um ensinamento profundo de Jesus sobre a correção fraterna e o perdão, dois pilares essenciais da vida cristã. No contexto do Evangelho, Jesus está instruindo seus discípulos sobre como devem se relacionar uns com os outros na comunidade de fé. Ele nos mostra que a fraternidade cristã não é uma convivência superficial, mas um compromisso mútuo de caminhar juntos em direção à santidade.

A primeira parte do versículo — “Se teu irmão pecar, repreende-o” revela que o pecado não pode ser ignorado na vida comunitária. A caridade cristã exige que nos preocupemos com a salvação do outro. Repreender um irmão que peca não é uma atitude de julgamento ou condenação, mas um ato de amor. A correção fraterna é um dever que visa a conversão do pecador e seu retorno ao caminho de Deus. O Catecismo da Igreja Católica (n. 1829) afirma que a caridade “exige a prática do bem e a correção fraterna”.

No entanto, essa repreensão deve ser feita com humildade e discrição, como ensina o próprio Jesus em Mateus 18,15: “Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, tu e ele a sós”. O objetivo não é humilhar, mas restaurar. Trata-se de uma atitude que nasce da compaixão, e não da superioridade moral. São Paulo reforça essa ideia em Gálatas 6,1: “Se alguém for surpreendido em alguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de mansidão”.

A segunda parte do versículo — “se se arrepender, perdoa-lhe” revela o coração do Evangelho: a misericórdia de Deus, que deve ser refletida na vida dos discípulos. O perdão é uma exigência radical do cristianismo. Jesus não apenas nos manda perdoar, mas condiciona o nosso próprio perdão ao perdão que oferecemos aos outros (cf. Mt 6,14-15). O arrependimento sincero do irmão deve ser acolhido com generosidade. Perdoar é uma forma de participar da misericórdia divina.

É importante notar que Jesus não estabelece um limite para o perdão. Nos versículos seguintes (Lc 17,4), Ele afirma: “Ainda que peque contra ti sete vezes no dia, e sete vezes venha a ti, dizendo: ‘Estou arrependido’, tu lhe perdoarás”. Isso mostra que o perdão cristão é ilimitado, assim como é ilimitado o amor de Deus.

Do ponto de vista teológico, este versículo de Lucas também tem implicações eclesiológicas. A Igreja é chamada a ser um espaço de conversão e reconciliação. A prática do sacramento da Penitência é uma expressão concreta dessa dinâmica: pela confissão e o arrependimento sincero, o fiel é acolhido pela misericórdia divina e reintegrado plenamente à comunhão com Deus e com os irmãos.

Portanto, Lucas 17,3 nos ensina que a vida cristã é uma caminhada conjunta, na qual somos responsáveis uns pelos outros. Devemos corrigir com amor e perdoar com generosidade, refletindo assim o rosto misericordioso do Pai. A correção fraterna e o perdão não são apenas exigências morais, mas expressões do Evangelho vivo na comunidade cristã.