“Ide por todo mundo, Proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15)

A Missão Redentora de Cristo

A frase pronunciada por Jesus em Lucas 19,10: “Pois o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”, resume, com clareza e profundidade, toda a missão redentora de Cristo. Trata-se de uma declaração que encerra o episódio do encontro entre Jesus e Zaqueu, mas que ecoa por todo o Evangelho como um refrão que revela o coração misericordioso de Deus e o verdadeiro sentido da encarnação do Verbo.

  1. O título “Filho do Homem”

A expressão “Filho do Homem” é uma das autodenominações mais utilizadas por Jesus nos Evangelhos. Ela tem raízes no Antigo Testamento, especialmente em Daniel 7,13-14, onde aparece uma figura celestial com autoridade divina, recebendo domínio eterno. Ao usar essa expressão, Jesus se refere tanto à sua condição humana verdadeira, quanto à sua identidade divina e messiânica, unindo, em si, Deus e homem. Ele é o Messias esperado, mas que não vem com exércitos ou imposições, e sim com compaixão e humildade para salvar.

  1. O coração da missão de Jesus: salvar os perdidos

O verbo “salvar” (do grego sōzein) na linguagem bíblica significa muito mais do que resgatar de um perigo físico. Na teologia cristã, salvar é trazer o ser humano de volta à comunhão com Deus, libertá-lo do pecado e da morte, e restaurar nele a imagem divina que foi obscurecida pela queda original.

Jesus declara que veio para procurar e salvar, ou seja, Ele toma a iniciativa. Não espera que os perdidos venham até Ele. Ao contrário, Ele se aproxima, procura, chama, levanta. Isso é revelador do amor de Deus que, como nos lembra o Catecismo da Igreja Católica (CIC 457), “o Verbo se fez carne para nos salvar reconciliando-nos com Deus”.

  1. Quem são os perdidos?

Os “perdidos” não são apenas os pecadores públicos, como Zaqueu, a mulher adúltera ou o filho pródigo. Na linguagem do Evangelho, perdido é todo aquele que se afastou de Deus, seja por ignorância, por pecado, por sofrimento ou até por orgulho. Jesus veio resgatar a humanidade inteira, pois todos, de alguma forma, experimentamos o drama da perda, a perda da fé, da esperança, do sentido, da identidade.

No contexto do encontro com Zaqueu (Lc 19,1-10), o “perdido” era um cobrador de impostos, considerado traidor do povo judeu e pecador público. No entanto, Jesus vê o coração de Zaqueu, que deseja vê-Lo e se abre à conversão. O olhar amoroso de Cristo devolve a Zaqueu sua dignidade e o insere novamente na comunidade dos filhos de Deus. A salvação, portanto, não é apenas individual, mas tem dimensão comunitária e restauradora.

  1. A economia da salvação

Segundo o ensinamento da Igreja, Deus “quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Toda a história da salvação, desde a criação, passando pelos patriarcas, profetas e culminando em Jesus Cristo, é um grande movimento de busca: é Deus que procura o homem, como no jardim do Éden, quando pergunta a Adão: “Onde estás?” (Gn 3,9).

Jesus é o ápice desta busca. Ele é o Bom Pastor que vai atrás da ovelha perdida, o médico que vem para os doentes, a luz que ilumina as trevas. A salvação que Ele oferece não é imposta, mas apresentada com amor e liberdade. A resposta do homem é o acolhimento, a conversão e a fé.

  1. Aplicação pastoral e espiritual

Esta passagem convida cada cristão a se reconhecer também como alguém que já esteve, ou ainda está, perdido. É um chamado à humildade e à esperança. Nenhuma situação de pecado, dor, afastamento ou desânimo é definitiva diante da misericórdia de Deus. Como diz o Papa Francisco:

“Deus não se cansa de perdoar. Somos nós que nos cansamos de pedir perdão.”

Além disso, este versículo desafia a Igreja a continuar a missão de Cristo: ir ao encontro dos perdidos. Evangelizar não é apenas ensinar doutrinas, mas procurar com amor aqueles que se afastaram, ouvir suas dores e apresentar-lhes a alegria do Evangelho.

  1. Conclusão: o Salvador que nos busca

Pois o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido.” Esta frase é um resumo do Evangelho. Nela, encontramos a ternura de Deus, o sentido da encarnação, o anúncio da salvação e a esperança para todos os que sentem que perderam o rumo.

Não importa quão longe alguém tenha ido, Deus sempre estará mais perto do que imaginamos, chamando-nos pelo nome e nos convidando a voltar. Porque o Filho do Homem, Deus feito homem, não veio para julgar, mas para salvar. E essa salvação é para todos.