A Voz que Clama no Deserto: No dia 24 de junho, a Igreja celebra com alegria e solenidade a Natividade de São João Batista, único santo, além da Virgem Maria e do próprio Cristo, cuja natividade é liturgicamente celebrada. Isso já revela sua importância singular no plano de Deus: João é o Precursor, aquele que foi enviado para preparar os caminhos do Senhor (cf. Lc 3,4).
Mais do que uma simples comemoração histórica, essa solenidade nos convida a olhar profundamente para a figura de João Batista e compreender como sua vida, missão e testemunho continuam a ser um modelo atual e urgente para a vida consagrada e missionária, sobretudo para os Religiosos e Missionários da Proclamação.
- A missão de João: preparar o caminho para o Senhor
Desde o ventre de Isabel, João Batista já se alegra com a presença do Salvador (cf. Lc 1,44). Seu nascimento foi cercado de mistério e promessa, marcado pelo anúncio do anjo e pelo silêncio profético de Zacarias. A vida de João não teve outra finalidade senão indicar o Cordeiro de Deus ao mundo e convocar os corações à conversão.
Ele viveu com radicalidade a vocação que lhe foi confiada: foi voz, não palavra; foi seta, não centro; foi ponte, não fim. Nunca buscou para si a glória, mas apontou sempre para o Outro: “É necessário que Ele cresça, e que eu diminua” (Jo 3,30).
Essa mesma dinâmica deve inspirar profundamente a vida daqueles que hoje se dedicam à missão de proclamar o Evangelho: ser voz fiel, ainda que no deserto; ser ponte que conduz a Cristo; ser sinal que aponta para a Verdade e nunca para si mesmo.
- Um profeta entre as sombras
A figura de João Batista é marcada por coragem profética, pela sobriedade de vida e pela inconformidade com a mentira e o pecado. Ele não pregou um Evangelho “açucarado”, mas anunciou com ousadia a verdade que liberta, mesmo diante de reis e autoridades.
Hoje, os Religiosos e Missionários da Proclamação são chamados a viver essa mesma radicalidade evangélica, sendo luz em tempos de confusão, voz em tempos de silêncio conivente, presença profética em meio à indiferença espiritual. Em um mundo cada vez mais fechado à transcendência, João Batista inspira a anunciar com ardor e fidelidade o Cristo que virá.
- Preparar os caminhos do Senhor que em breve voltará
Vivemos no tempo da Igreja entre a primeira vinda de Cristo, no mistério da encarnação, e sua segunda vinda gloriosa. João Batista preparou os caminhos para a vinda histórica de Jesus; nós, hoje, somos chamados a preparar os caminhos para a Sua volta gloriosa.
Essa dimensão escatológica da missão é essencial para os Missionários da Proclamação: não basta apenas formar comunidades ou realizar obras; é preciso, com urgência, preparar corações para acolher o Senhor que virá. A vida consagrada e missionária, quando autêntica, deve ser como a de João: uma sentinela que vigia a aurora, um sinal que desperta os dorminhocos, uma trombeta que anuncia o Rei que se aproxima.
- Inspirar-se em João: identidade e missão
Para os Religiosos e Missionários da Proclamação, João Batista oferece um modelo claro e atual:
🔹 Viver o silêncio interior: como João no deserto, o missionário precisa cultivar uma vida interior profunda, para ouvir e discernir a voz de Deus.
🔹 Ser fiel à verdade, custe o que custar: João perdeu a cabeça, mas não traiu a missão. O consagrado é chamado a amar a verdade mais do que sua própria reputação.
🔹 Apontar sempre para Jesus, não para si: o missionário não busca seguidores para si, mas conduz todos ao encontro com Cristo.
🔹 Despertar os corações adormecidos: a missão de proclamar exige palavras de fogo, gestos concretos e vida coerente.
🔹 Viver com urgência o anúncio do Reino: como João, que sabia que o tempo era breve, o missionário deve evangelizar com pressa de amor, com zelo incansável.
- Conclusão: João ainda clama — hoje através de nós
A voz de João Batista continua a ressoar na Igreja, agora por meio daqueles que, como ele, foram chamados a preparar o caminho do Senhor. A Solenidade da Natividade de São João Batista não é apenas uma memória litúrgica, mas um chamado ardente à missão, especialmente para os Religiosos e Missionários da Proclamação, que se dedicam a anunciar o Evangelho encarnado com a vida e praticando Obras de Misericórdia.
Que, como João, sejamos vozes que clamam com amor e verdade neste deserto contemporâneo, até que o Senhor volte em glória.
“E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás à frente do Senhor para preparar-lhe os caminhos.” (Lc 1,76)