“Ide por todo mundo, Proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15)

Só Deus julga com Perfeição

“Não julgueis, e não sereis julgados” (Mt 7,1)

A frase de Jesus em Mateus 7,1 “Não julgueis, e não sereis julgados” ressoa com força no coração da fé cristã. Ela não é um convite à indiferença ou ao relativismo, mas sim uma convocação profunda à humildade, à caridade e ao exame sincero da própria consciência. Em um mundo marcado pela crítica rápida, pelo julgamento impiedoso e pela superficialidade nos relacionamentos, o ensinamento de Cristo aparece como luz que orienta para a misericórdia.

No contexto do Sermão da Montanha, Jesus exorta seus discípulos a viverem uma justiça maior do que a dos fariseus, baseada não apenas em atos externos, mas numa transformação interior. Ao dizer “não julgueis”, o Senhor nos chama a reconhecer nossos limites humanos, nossa fragilidade diante do mistério da vida do outro e, principalmente, diante do julgamento definitivo, que pertence somente a Deus.

Julgar o próximo é, muitas vezes, uma forma sutil de exaltar a si mesmo. É como se, ao apontar o erro alheio, quiséssemos esconder ou minimizar os próprios pecados. Jesus denuncia essa atitude quando diz, logo em seguida (Mt 7,3), “Por que vês o cisco no olho do teu irmão, e não percebes a trave que está no teu próprio olho?”. Essa imagem forte nos lembra que a conversão começa por dentro, por reconhecer que todos somos necessitados da graça.

O Catecismo da Igreja Católica (n. 2478) ensina que devemos sempre interpretar, na medida do possível, os pensamentos, palavras e ações do próximo de modo favorável. Essa postura não elimina o dever de exortar com amor quando necessário, especialmente entre irmãos na fé, mas nos lembra que correção fraterna verdadeira só pode nascer de um coração humilde, livre da arrogância de quem se coloca como juiz.

Jesus, o Justo Juiz, será também nosso advogado (cf. 1Jo 2,1), pois conhece as intenções mais profundas do coração humano. Ele não julga pelas aparências, mas com justiça e misericórdia. Imitemos, portanto, o Senhor em sua paciência e compaixão, lembrando que seremos medidos com a mesma medida que usamos para os outros (Mt 7,2). Ao invés de condenar, sejamos instrumentos de reconciliação, cultivando o olhar que acolhe, que perdoa, que compreende.

Que possamos, à luz do Espírito Santo, cultivar o discernimento sem arrogância, a verdade sem dureza, a justiça com amor. E, acima de tudo, que nunca nos esqueçamos de que só Deus vê o coração. Julgar é função d’Ele. Amar é a nossa.